A Invenção de Hugo Cabret


Um dos maiores mitos vivos do cinema, Martin Scorsese é a versatilidade em pessoa. De suspenses policiais ao violento mundo da máfia norte americana, passando pelos longas de época sobre a aristrocracia do século XIX até aqui, na bucólica Paris dos anos trinta. Em sua nova produção, o cineasta americano insere-se no hall de diretores que encontraram na literatura infanto-juvenil e teen um filão para ser explorado na telona, às vezes com muito êxito a exemplo da super potência Harry Potter, outras agradando apenas o público alvo como é o caso da saga Crepúsculo.

Baseado no conto escrito por Brian Selznick e adaptado pelo roteirista John Logan, de O Último Samurai, O Aviador e Rango em A Invenção de Hugo Cabret logo na abertura, através de um eficiente plano sequência, já somos ambientados ao cenário principal um terminal ferroviário na capital francesa com toda sua magnitude (em mais um belo trabalho do italiano Danti Ferretti), e que nos conduz até os relógios da estação onde secretamente vive Hugo Cabret (Asa Butterfield), um jovem órfão de doze anos que foi levado pra lá pelo tio, depois que o pai morre. Solitário (o tio posteriormente o abandona), Cabret se torna o novo responsável pela manutenção das máquinas sobrevivendo por meio de pequenos furtos ao comércio da estação durante o dia, sempre se resguardando para manter o anonimato e da possível ação do guarda local (Sacha Baron Cohen, em desempenho mais contido, mas ainda impagável). Seus únicos companheiros são um esquisito robô e um caderno de anotações, escondendo algumas instruções secretas deixadas pelo pai. Num golpe do destino, seu caminho acaba se cruzando com o do velho proprietário de uma oficina de brinquedos, Papa Georges (Ben Kingsley, ótimo) e o de sua neta Isabelle (Chloë Grace Moretz). Surpreendido por Georges em uma tentativa de roubo, o protagonista acaba estabelecendo uma relação (ainda que distante) com o sisudo personagem que , digamos, é a chave de todo o mistério. A partir daí, dá-se início a todo um processo metalinguistico, envolvendo um dos mais importantes precursores da arte cinematográfica.


Utilizando um simples gancho narrativo capaz de atrair a atenção do grande público, em A Invenção de Hugo Cabret Scorsese deixa de lado suas perspectivas cruas e pessimistas de mundo ao comandar esta produção com um inesperado toque lírico bem ao estilo Tim Burton. Porém, não há figuras bizarras; construções góticas ou tiradas de humor negro. Preciso e inteligente, mexendo com a plateia mas fugindo do sentimentalismo puro e gratuito o diretor desvia-se dos excessos e como em toda produção demonstra certa preocupação estética, mesmo que aqui seja um tanto forçada (uma estação de trem na Paris dos anos trinta sem ratos perambulando pelas passagens que dão acesso ao local onde vive Cabret é bem estranho). De igual modo, a inocência de uma paixão platônica representada no filme pelo guarda da estação por uma florista (interpretada por Emily Mortimer) não é muito usual em sua cinematografia. São esses singelos elementos que despertam uma sensação que pode levar o espectador a se questionar: que Scorsese é esse que ainda não conhecia?

Apesar de ser facilmente associado a Oliver Twist, o menino órfão do romance de Charles Dickens, há uma certa originalidade no protagonista de A Invenção de Hugo Cabret. No filme não se discute questões sociais, nem os intempéries ocorridos na vida do personagem na verdade os olhares do garoto que em determinado momento também são os do espectador, estão fixos no desconhecido que abrirá as portas para outra atmosfera, resultando em uma das mais perfeitas homenagens ao mundo da Sétima Arte. É exatamente neste momento que fica claro o diferencial do realizador de obras como Touro Indomável e Os Bons Companheiros para seus colegas que também tentaram caminhar pelos trilhos da metalinguagem. Sua sutileza e simplicidade quase resultam em um Obrigado meus antecessores por existirem!

Com mais de quarenta anos de carreira é de se admirar que Martin Scorsese ainda possua uma capacidade singular de se reinventar, quando achávamos que sua marca já estava impressa na história , o que não é inverdade há uma novo percurso que ele toma e que explicita que há ainda inúmeras possibilidades. Esta produção é mais uma prova disso.

3 Response to "A Invenção de Hugo Cabret"

  1. Queria comentar sobre a Meryl Streep sendo artista da semana, este mês ela sai na Vogue Americana se não me engano e eu fico muito feliz, ela é minha segunda atriz favorita, depois da Halle Berry, o trabalho dela é incrível e admiro como pessoa também!

    Obrigado pela passadinha em meu blog, fico muito feliz, retribuindo e estou seguindo vc...

    http://hommesfrost.blogspot.com/

    Abraços

    Kamila says:

    Quero tanto, mas tanto assistir a este filme, que todos dizem ser um retorno à essência do cinema: a magia!!

    Ótimo texto Flávio, mas agora despejarei minha ira qto ao filme e seu diretor...rs
    Achei o filme muito fraco, chato e sem carisma, potencializado pelo péssimo Asa...e tem gente q reclama do rapaz de War Horse...rs
    Acho q muitos q vão gostar desse filme o associam ao diretor, achando q ele nunca fez nada ruim, e Hugo é mais um dos fracos filmes q ele vem fazendo desde Cassino, seu último grande trabalho, de lá pra cá nada se salva.
    Espero seu comentário no meu blog qdo eu analisar os indicados.
    abraço e continue o ótimo trabalho.

Postar um comentário

Powered by Blogger