O Garoto da Bicicleta

Dirigido e roteirizado pelos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardene, O Garoto da Bicicleta (Le Gamin au vélo, no original) parte de uma premissa até já muito vista em produções hollywoodianas, mas a longa experiência dos cineastas na condução de tramas que se centram nos dramas e aflições adolescentes o torna um prato com sabor diferente.

Sem grandes rodeios somos apresentados a Cyril (Thomas Doret), um garoto de onze anos que foge do internato e parte em busca do paradeiro do pai e de sua bicicleta. Abandonado à própria sorte, num golpe do destino - acaba conhecendo Samantha (Cécile de France), uma jovem cabeleireira que - em acordo com o internato de Cyril, reserva seus finais de semana para ficar com o protagonista.

Não se atendo a uma narrativa cheia de processos, os irmãos Darnede optaram por simplificar o roteiro, desviando-se de alguns pormenores - por assim dizer - já muito explorados pelo cinema - como o desenvolvimento ou a adaptação da relação entre o adulto paternal e a frágil criança traída pelas circunstâncias - estando o primeiro disposto a tudo para direcionar o segundo para um novo rumo em sua vida. São n produções que apostaram neste enredo, algumas muito bem sucedidas como Glória de John Cassavetes - onde Gena Rowlands interpretava a ex-namorada de um gângster que se sentiu obrigada a proteger uma criança que teve sua família morta por mafiosos – e Central do Brasil com Fernanda Montenegro ajudando Vinicius de Oliveira a encontrar o pai no sertão nordestino - outras um tanto maniqueístas como Um Sonho Possível - no qual Sandra Bullock adotou um jovem e o ajudou a se transformar em um astro do esporte.



Em O Garoto da Bicicleta até mesmo a demonstração de afeto entre Cyril e Samantha é regada de sutileza - não há aquelas longas cenas de emoções transbordantes ou momentos onde os atores apresentam um tour de force. Talvez movidos pela solidão os nada glamourizados personagens encontraram um no outro uma forma de preencher um vácuo em suas vidas, tornar especial para ambos essa nova experiência - mesmo que a príncipio não demonstrem tantas afinidades, conseguem discretamente estabelecer certo vínculo. Esse celeiro de figuras periféricas é uma constante nos longas de Jean-Pierre e Luc Dardene. Se em A Criança depara-se com um pai que é tentado a vender o próprio filho para o mercado negro de adoção e em O Silêncio de Lorna a protagonista está exausta do envolvimento do marido com as drogas, em O Garoto da Bicicleta é de France e a revelação Doret que embarcam em um universo exaustivo e solitário. A propósito, Cécile de France está perfeita, transmitindo uma pontual resignação para com a vida, que, aparentemente – já lhe trouxe diversos dissabores – mas ao mesmo não deixando que a amargura se apoderasse dela – revelando através de discretos sorrisos que talvez a felicidade esteja na verdade em pequenos momentos. Em contrapartida o ótimo Thomas Doret assume Cyril como uma criança com a sisudez proveniente da imaturidade e vítima do descaso e abandono, que raramente sorri e que inocentemente acaba sendo manipulada por um personagem que cruza seu caminho incentivando-o a cometer certo delito – no caso o clímax do filme que o direciona para um final em aberto.

Podendo não ser considerado um dos melhores filmes dos famosos irmãos Dardene no conjunto geral, O Garoto da Bicicleta é uma produção que com certeza ganha o espectador pela honestidade e pela capacidade de tocar a plateia apostando no singelo e sutil, ao invés do puramente emocional ou sentimentaloide.



3 Response to "O Garoto da Bicicleta"

  1. Kamila says:

    Os Irmãos Dardenne fazem um cinema interessante, que me interessa. Quero assistir a este filme.

    Mandy says:

    Não conhecia o filme, mas parece ser bastante interessante.
    Adorei a dica!!!
    BjO

    Esse filme parece ser muito interessante.
    Gosto do trabalho dos irmãos Dardenne.

    Legal o seu blog, estou começando a acompanhar.
    Parabéns.

    http://www.cinemosaico.com

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