Escritores da liberdade


Filmes que possuem a temática focada no relacionamento entre um professor e seus inicialmente rebeldes alunos, são bem comuns, pra não dizer clichês. Sidney Portier, Samuel L. Jackson, Edward James Olmos , Michelle Pheiffer - todos já interpretaram professores determinados em não apenas ensinar, mas contribuir de algum modo - apontando caminhos que são contrários a marginalização e a criminalidade com as quais muitos convivem desde crianças.
Baseado em uma história real , Escritores da liberdade (Freedom Writers) , dirigido por Richard LaGravenese e produzido por Danny DeVito, à primeira vista parece apenas mais um dos exemplares da recorrente temática professor versus alunos, mas o que diferencia este filme para os demais é que o longa não se concentra apenas nos dramas vividos pelo protagonista no seu relacionamento com os alunos , mas também nos dilemas, conflitos e amarguras dos jovens estudantes de uma escola em que negros, latinos, asiáticos e brancos são obrigados a dividir espaço. Pode-se dizer que os personagens teoricamente secundários são tão protagonistas quanto a , digamos , verdadeira personagem principal.

Erin Gruwell (Hilary Swank) é uma jovem professora que chega a uma determinada escola em Long Beach - na Califórnia - com uma perpectiva bastante comum para uma docente recém-formada. Gruwell esperava que este seria apenas mais um novo desafio para ela, porém na sala de aula é tratada com indiferença pelos alunos que não se mostram nem um pouco interessados pelo o que a nova professora tem a dizer.
Na turma - negros só falam com negros, orientais se comunicam apenas entre si , os poucos latinos formam uma outra "panela" e o único branco implora pela atenção de um dos grupos.


Disposta a promover uma mudança naquela sala de aula, mostrando que não importa a origem ou o ambiente social no qual um indivíduo se encontra, a professora "G." - como os alunos a apelidam, se entrega totalmente a esta missão. A primeira providência que Gruwell toma é de desfazer as "panelas raciais" daquela sala, trocando os alunos de lugares e deixando mais próximas pessoas que até então eram resistentes ao contato com indivíduos de outra origem. A seguir , numa das melhores cenas do filme - através de uma dinâmica a personagem coloca frente a frente os alunos e os fazem revelar um pouco mais deles mesmos e do ambiente no qual estão inseridos.


Uma das medidas tomadas por Erin Gruwell que maravilhosamente contribuiu no desenvolvimento dos discentes, foi permitir que os mesmos desabafassem através de um diário , contando suas dores e problemas pessoais , e se quisessem estes mesmos diários seriam lidos secretamente pela professora. Posteriormente este trabalho se tornou um projeto que acabou resultando em um livro, baseado nos relatos de Gruwell e seus alunos.


O primeiro acerto de Escritores da liberdade é Hilary Swank. A atriz que hoje é a intérprete que mais faz personagens biográficos em Hollywood , está excelente como a professora novata que persistente acredita no potencial de cada um daqueles jovens, que vivem à margem da sociedade. Swank é precisa, sem ser pedante ou superficial. Sabemos que a personagem tem um objetivo um tanto difícil de ser concretizado , mas conseguimos dar credibilidade e torcer pela protagonista quando percebemos que ela sabe que nada acontecerá como em um passe de mágica, e é aí que podemos comprovar a qualidade da atriz que Hilary Swank é, pois um personagem como esse muitas vezes periga cair na caretice.


Destaque também para os desconhecidos atores que interpretam os alunos de Gwruell. Do grupo, April L. Hernandez - que faz uma adolescente latina que vive em gangues - é quem mais brilha.

A direção de Richard LaGravenese assim como a de Jonh N. Smith em "Mentes Perigosas" - um filme com a temática similar estrelado por Michelle Pheiffer - é bastante convencional. O diretor ganha pontos por não carregar no tom , mas em contrapartida não faz nada inovador , tornando tudo previsível por demais. Enquanto o roteiro, também de autoria de LaGravenese é bastante inspirado , rendendo cenas extremamente emocionantes, como aquela em que Miep Gies - uma das pessoas que tiveram contato com Anne Frank e sua família na época do Holocausto - conta um pouco para os alunos sobre a famosa menina judia que morreu aos quinze anos nos campos de concentração. O livro "O Diário de Anne Frank" foi uma das obras que pertenceram ao plano curricular de Erin Gruwell.



Dos recentes filmes que assisti, foram poucos os que me emocionaram de verdade como Escritores da liberdade. A produção - apesar de ter uma estrutura bastante batida - ganha o espectador pela sensibilidade com a qual são contados os dramas vividos por aqueles personagens. Cada retrato ali - infelizmente - é muito mais real do que se imagina , mas mesmo com a triste realidade ilustrada no filme , devemos ter em mente o que Gruwell teve desde o início: a certeza de que para começar um processo de mudança em um grupo é necessário muito mais do que saber falar , é preciso saber ouvir para dessa forma contribuir para que alguém consiga ser um cidadão de bem e que possa estimular os outros que estão a sua volta.
Escritores da Liberdade vale a locação.

A verdadeira Erin Gruwell (primeira fila, a quinta da esquerda para a direita , de blusa rosa) com sua turma de alunos.

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