Hotel Ruanda
Em abril de 1994 , após o atentado ao presidente Juvenal Habyarimana - o que resultou em sua morte , ocorreu em Ruanda um dos maiores genocídios ocorridos em todo mundo. Dividido em dois grupos étnicos - hutus e tutsis - esse pequeno país africano que anteriormente era um côlonia pertencente a Bélgica, virou palco de um agressivo confronto decorrente da grande rivalidade entre os dois grupos.
Devido a um boato de que a minoria tutsi iria atacar o povo rival , tropas hutus - tendo o apoio da Radio Télévision Libre de Mille Collines (RTLM) - que era um veículo de comunicação que incitava os hutus a atacarem seus adversários, passaram a perseguir os tutsis, promovendo um massacre onde mais de seiscentas mil pessoas foram exterminadas.
O filme Hotel Ruanda que é baseado em fatos reais, retrata os eventos e a ação ocorridos envolta de alguns personagens que estiveram no cerne dos acontecimentos.
Conhecemos Paul Rusesabagina (Don Cheadle) que é um gerente de um dos hotéis mais sofisticados de Ruanda , o quatro estrelas Les Mille Collines. Diferentemente da mulher (Sophie Okonedo) que é tutsi, Paul é da etnia hutu, porém - apesar disso não fazer diferença para eles, qualquer contato de um povo com outro é visto pelos demais como traição.
Na época do genocídio em Ruanda, o Les Mille Collines hospedava diversos estrangeiros, como americanos; franceses; belgas e alemães que devido a onda de violência que se instalou em Kigali, capital de Ruanda, ficaram impossibilitados de sairem do país. Também se refugiaram ali milhares de tutsis - entre jovens , velhos e crianças - temendo por suas vidas.
Com o auxílio das forças de paz , o hotel consegue ficar temporariamente em segurança e já nesta altura Paul consegue ajuda e proteção com o Coronel Oliver (Nick Nolte), que simbolizava os militares do Canadá.
Mais adiante tropas belgas chegam para dar suporte, entretanto ao contrário do que todos imaginavam , eles só estavam ali com o único objetivo de resgatarem os turistas e não para salvarem nativos de Ruanda.
Estimasse que o hotel conseguiu abrigar mais de mil tutsis, graças a coragem e ousadia de Paul Rusesabanagina, que posteriormente ganhou vários prêmios de méritos humanitários devido a sua atitude.
Dirigido por Terry George, Hotel Ruanda é tensão do ínicio ao fim. A produção faz um mix de dramatização e linguagem documental com bastante propriedade.
As cenas de confronto entre tutsis e hutus são chocantes e densas, e em nenhum momento a direção de George peca ou investe num drama exacerbado.
Don Cheadle e Sophie Okonedo - intérpretes do casal Paul e Tatiana - estão soberbos, transmitindo todas a nuances que uma produção deste tipo permite. Cheadle que foi indicado ao Oscar por este papel, disse em uma entrevista que inicialmente o personagem não era para ele, mas depois de assistir Hotel Ruanda, não consigo ver ninguém melhor do que o ator para interpretar Rusesabagina.
Cada choro e cada pedido de socorro presentes nas cenas do filme é de um impacto singular. O evento ocorrido neste país na época foi comparado com algumas situações presentes nas cenas de A Lista de Schindler.
O roteiro original de Terry George e Keir Pearson - também indicados ao Oscar - é prudente em não enfocar em excesso o massacre, o que poderia tornar tudo apelativo e sensacionalista por demais. Os roteiristas acrescentaram alguns elementos que conseguiram amenizar um pouco a forte história, como a relação amorosa de Paul com sua mulher Tatiana.
Hotel Ruanda é um filme que mexe com o espectador e constrange pela inércia presente em cada um, diante das tragédias e conflitos que ocorrem em países assolados pela miséria e que são esquecidos ou ignorados pelo mundo.
Um dos melhores diálogos da produção é quando Paul e um dos jornalistas presentes ali no hotel, cogitam a intervenção dos países ricos diante daquela situação desesperadora em Ruanda, por meio da divulgação das imagens pela TV mundial:
Paul: "Tenho certeza que com a exibição dessas cenas na televisão , países como EUA e outros virão ao nosso socorro".
O jornalista retruca: "Paul , as pessoas que assistirem essas cenas de massacre durante o jantar por exemplo, num primeiro momento vão expressar seu espanto e horror com tudo aquilo, mas depois disso vão continuar jantando normalmente".
É de se pensar - enquando milhares morrem e sofrem neste mundão afora, não estamos nós agindo como essas pessoas que o jornalista disse ?
Fica pra refletir.
O verdadeiro Paul Rusesabagina sendo condecorado pelo então presidente Bush
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