For Colored Girls



Vidas marcadas por tragédias pessoais, conflitos irreversíveis que podem custar caro , os piores sentimentos submergindo por ter sido privada a alguém a oportunidade de gerar.

Dirigido por Tyler Perry, For Colored Girls inicia-se com uma bela montagem com suas protagonistas recitando uma passagem do livro de Ntozake Shange - For Colored Girls Who Have Considered Suicide When the Rainbow Is Enuf , do qual se baseia o roteiro do longa.

Frases sombrias de uma mulher que não teve adolescência / Notas dispersas , sem ritmo - em uma sintonia confusa, o fardo que recai em uma garota negra/É engraçada e histérica a melodia dessa dança/ Não diga a ninguém - a ninguém..../Outra música sem cantoras , letras sem vozes.../somos fantasmas ? As crianças do horror ? Uma piada ?...Não diga a ninguém, fique calada... /Somos animais ? Enloquecemos ? Não ouço nada além de gritos loucos e o suave som da morte.../

Os trechos acima evocam os sentimentos de nove personagens - todas mulheres , negras e vítimas de alguma peripécia do destino. A personalidade de cada uma delas é exposta com um auxílio simbológico representado por uma cor distinta. Jo ( Janet Jackson) - a dama vermelha - é uma poderosa executiva , fria e extremamente exigente - que suga ao máximo sua equipe em busca de resultados. Tanto seu escritório quanto seu apartamento - são dominados por uma combinação do branco - transmitindo uma sinceridade contida , com pequenas - mas determinantes - peças em vermelho , exaltando o poder e a força que ela possui. Juanita (Loreta Devine) - a dama verde , é a mais divertida do grupo , sua energia empolgante e arrogância contrastam com sua vulnerabilidade ao cair de amores pelo ex-companheiro, mesmo depois de tantas traições. Yasmine ( Anika Noni Rose) , a dama amarela - é uma professora de dança dedicada , que se extasia com o desenvolvimento e progresso de suas alunas, deixando sua vida afetiva em segundo plano. Tangie (Tandie Newton) , a dama laranja - é uma atraente mulher que possui um estilo de vida amoral, sendo mal vista pelos vizinhos devido a seu comportamento peculiar. Alice (Whoopi Goldbert) , a dama branca , é mãe de Tangie e Nyla , extremamente religiosa - tem um amor incondicional pela filha mais nova e um forte desprezo pela primogênita, por sua vida "pecaminosa". Gilda (Phylicia Rashad) , a dama cinza - tal como o significado da cor é o equilíbrio em pessoa, sua sensatez acaba sendo imprescindível em vários momentos. Crystal (Kimberly Elise) , a dama marron , luta pela harmônia em seu lar - depois que o marido alcoólatra passa a agredí-la e a seus filhos. Sua dependência emocional chega ser auto-destrutível e prejudicial a todos. Nyla ( Tessa Thompson) , a dama roxa - é uma jovem estudante , que se vê desesperada quando descobre uma gravidez indesejada, o que - indiretamente incentivada pela irmã , a faz procurar uma dessas clínicas de aborto ilegais. Por fim, Kelly( Kerry Washington, fazendo um papel bem semelhante ao de Destinos Ligados) - a dama azul, é uma assistente social - que , infértil , deixa-se envolver pela vida das outras personagens nos relacionamentos com seus filhos. Em meio a um grito por socorro - uma violenta briga ou um ato que deixará marcas eternas , essas mulheres recitam os pensamentos de uma mulher negra - em terras americanas , oprimida pelo desabor , o preconceito e a desilusão. O que fica claro no final do poema da abertura do filme:"...Pelas garotas negras , que pensaram em suícidio , mas conseguiram superar e deram ao volta por cima..."

Não fosse Tyler Perry , diretor e roteirista do longa e produtor de Precious - For Colored Girls seria até um filme bastante envolvente. Adotando alguns recursos nada sutis , que descaradamente imploram por lágrimas , Perry estraga a produção - com seu habitual exagero e a total falta de habilidade na direção. O grande perigo de obras que tratam de questões com viés emocional , é justamente esse - cair no apelativo e caricatural - e a mão pesada do diretor pode arruinar qualquer pretensão.

Já o roteiro esquemático , dá um ar piegas para a grande parte das cenas . Com exceção de um belíssimo diálogo travado entre as personagens de Kimberly Elise e Phylicia Rashad- quase todo o resto beira ao constrangedor.

A propósito , em meio a tantas figuras artificiais demais ou afetadas até a última esfera - Elise e Rashad se sobressaem - oferecendo ótimas perfomances. Elise , que já tinha demonstrado talento no trilher Até as últimas consequências - até hoje é um segredo bem guardado de Hollywood. A atriz de 43 anos entrega tamanha veracidade a Crystal - que foi dada a ela a incumbência de liderar a última cena do filme - onde declama alguns dos versos mais fortes do livro de Shange.





A fotografia de Alexander Gruszynski, que realça as colorações respectivas a cada protagonista - é delicada e coerente com o cenário-ambiente . O vermelho forte de um buquê de flores em meio ao branco neve das paredes do escritório de Jo , por exemplo, resulta numa plástica belíssima.

Muitos dizem que se sentem frutrados ao assistir um filme baseado naquele livro que quando leram ficaram fascinados. Ainda não li For Colored Girls Who Have Considered Suicide When the Rainbow Is Enuf, mas depois de ver o que Tyler Perry fez aqui, a possibilidade de gostar mais da obra escrita será muito grande.

É de se pensar o que faria Spike Lee se tivesse esse material nas mãos. Acredito que até hoje não surgiu um diretor que consiga transmitir tão bem o cenário black quanto o responsável por Febre da Selva - por mais que Paul Haggis e Lee Daniels tenham sido promissores em Crash e Precious , respectivamente.

For Colored Girls poderia ter sido muito bem sucedido, o material é excelente - mas por motivos que desconheço, alguém acha que Tyler Perry tem talento para direção. Grande engano...





Nota: 5

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