O Vencedor


O que Robert De Niro, Sylvester Stalone, Denzel Washington, Will Smith , Mickey Rourke e Mark Wahlberg têm em comum? Resposta: Todos interpretaram boxeadores e boa parte deles teve grande reconhecimento da crítica exatamente por esse papel.

No novo longa O Vencedor (The Fighter, no original) conhecemos a história real de Micky Ward, boxeador que tenta a todo custo ascender na carreira, sempre auxiliado pela mãe e pelo irmão drogado.

Dick (Christian Bale) , no passado um profissional do boxe de muito renome , projeta em Micky (Mark Wahlberg) todos os seus desejos e frustrações e - atuando como seu treinador - se alia a matriarca para que o mais jovem possa deixar a posição de trampolim (quando pretensos boxeadores lutam com pessoas mais experientes, na tentativa de servir de escada para eles) nos ringues. O maior entrave é que o vício de Dick com as drogas, acaba sendo um empecilho - bem como a constante intervenção de Alice (Melissa Leo) na vida profissional do filho.



Segundo as más línguas, David O. Russel não é um diretor com quem é muito fácil de se trabalhar. Talvez seja por isso que tenha dirigido muito pouco desde sua estreia em 1987 - sendo O Vencedor apenas seu oitavo trabalho. Porém, nota-se que ele não gosta muito de rodeios e logo ali pelos cinco minutos de projeção, já dá indícios do ritmo que vai seguir - adotando um clima bem ágil e até mesmo eletrizante. Os irmãos boxeadores são os primeiros a serem apresentados ao espectador, no momento em que estão gravando um documentário produzido pela HBO , sobre o retorno do mais velho à profissão (da qual se vangloria por ter supostamente derrotado Sugar Ray Leonard - um famoso ex-pugilista) e o sucesso do personagem interpretado por Wahlberg.

O. Russel introduz a platéia ao cenário onde vive aquela família suburbana - residente do Lowell (Massachusetts) , com frênesi , ao - em meio a uma entrevista realizada nas ruas do bairro onde moram os Wards - retirar o foco dos protagonistas e deslocar a câmera em alta velocidade - ambientando o espectador à humilde vida dos moradores daquela região - repleta de casas simples e figuras periféricas. O que para alguns pode soar como pressa excessiva , chama-se na verdade agilidade narrativa.

O roteiro - escrito pelo trio Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson - afasta O Vencedor das óbvias comparações com - por exemplo - Rock, o Lutador. O filme que rendeu uma indicação ao Oscar para Sylvester Stalone, se centrava bem mais na capacidade de superação e determinação do protagonista em relação ao esporte , do que nos conflitos e dramas pessoais que cercavam o personagem - muito embora o longa de David O. Russel não foi concebido para ser exatamente um dramalhão familiar, mas uma análise do quanto as pessoas precisam umas das outras para chegarem onde almejam. A trama é rodeada por figuras politicamente incorretas. Dick foi um esportista de talento, mas afundou nas drogas, acabando preso e meio que involuntariamente se torna uma pedra no sapato do irmão. Alice tem ao todo nove filhos, sendo alguns de pais diferentes. Extremamente controladora, demonstra ter uma ligação de afeto maior por seu primogênito do que pelos outros. Charlene (Amy Adams) , a namorada de Micky - rivaliza com os Wards - tentando assumir a liderança na carreira do amado, na esperança de tornar menos decepcionante a miserável vida que leva. Já Micky é - a princípio - manipulável, tem medo de assumir suas escolhas - contrastando com o que se espera de um adulto na faixa dos trinta anos.

Grande parte do mérito do longa , se deve ao seu ótimo elenco. Christian Bale - favorito para levar o Oscar de coadjuvante , some no seu personagem a ponto de não deixar nenhum vestígio de Bruce Wayne - o homem morcego. O ator que emagreceu 28 quilos para fazer O Operário, aqui não chega a tanto , está irreconhecível. Melissa Leo - outra que pode sair feliz da próxima edição do Academy Awards , é uma atriz cheia de versatilidade. Sua Alice é uma perua ao extremo, e de igual modo terna e maternal. Amy Adams está se desvencilhando dos papéis doces e ingênuos, assumindo novos desafios que podem dar um upgrade em sua já bem sucedida carreira. Por fim, o talento de Mark Wahlberg continua sendo uma incógnita. O astro - que também é um dos produtores - até está correto , mas um bom desempenho de sua parte ainda deve-se mais ao esforço de um competente diretor de atores do que particulamente de seus atributos artísticos.



Dos dez candidatos ao próximo Oscar na categoria melhor filme, o longa de David O. Russel talvez seja o que melhor interação teve com o público, até mesmo por abrigar figuras tão desglamourisadas e cheias de humanidade.

Há em O Vencedor um desfile de pessoas comuns , temerosas em aceitar uma realidade que está ali , bem à porta - mas com a qual elas não se sentem preparadas para lidar. Assim , na tentativa de se sentirem um pouco melhor com elas mesmas, jogam suas expectativas para o outro - entendendo que nunca chegarão a ser capazes de obterem suas próprias conquistas.


Nota: 9,5

1 Response to "O Vencedor"

  1. Kamila says:

    Assisti "O Vencedor" ontem. Um filme sólido, que conta uma história que é batida (o azarão que tem a chance de entrar para a história), mas de uma forma bem diferente. O elenco aqui foi o grande diferencial, com destaque especial pro Christian Bale, que transforma um personagem que poderia ser irritante em um cara que causa empatia na gente.

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