Mãos que Curam



A medicina e a religião sempre travaram um bravo duelo. O racionalismo da primeira contra a crença no transcendental da segunda que - segundo argumentos bíblicos - pode dissipar todo e qualquer mal.

Em Mãos que Curam ( El Mal Ajeno, no original) do diretor Óskar Santos e com produção de Alejando Amenábar , acompanhamos o processo de mudança que envolve Diego ( Eduardo Noriega ) - um jovem médico que encontra equilíbrio para as situações do dia a dia no hospital em que trabalha, através de seu comportamento ceticista , mantendo a distância necessária no relacionamento médico/paciente. Após se separar da mulher enfermeira , o personagem tenta se manter são - assumindo como responsabilidades o pai enfermo , a filha rebelde , a resignada ex-esposa , além dos deveres da medicina. O grande climax na vida de Diego se dá quando o marido de uma de suas pacientes terminais cruza seu caminho e lhe acerta com um tiro , promovendo transformações determinantes na vida do médico - que , depois de quase ser vítima de homicídio , estranhamente adquire o dom de cura.

Escrito por Daniel Sánchez Arévalo, Mãos que Curam é uma das duas películas espanholas recentes que abordam enfaticamente a junção entre o humano e o sobrehumano, em 2009 Camino angariou prêmios importantes apostando no mesmo tema. Dizer que tal proposta possui impacto suficiente para ganhar a atenção do espectador é desnecessário, o interesse pelo sobrenatural acompanha a humanidade há anos - o ponto alto desta produção é sua condução.





Sem menosprezar a importância do racionalismo do campo medicinal , o cineasta Óskar Santos propoê uma boa reflexão: Será que a medicina e a religião, mesmo que esta no filme seja tocada bem indiretamente - podem de fato caminhar pelos mesmos trilhos, sem se anularem ? Várias respostas podem ser encontradas, mas os dois cursores sinalizam para o mesmo ponto: a celebração da vida ( Se não apreciarmos a vida , não teremos interesse em preservá-la - alguém declara num breve momento) .


Diego como profissional se mantém implacável e frio , evitando e condenando qualquer aproximação maior com aqueles indivíduos próximos de uma eminente morte. A crueza do protagonista é contrastada pela figura terna e acolhedora , provalmente devido a inexperiência , de um dos residentes do hospital. A admiração de Juanjo (Marcel Borràs) por Diego é explícita, o personagem não tenta esconder isso , mas preserva sua identidade. É nesse aspecto que o texto se mostra eficiente.

O personagem de Noriega tem anos de estrada, entretanto também é falível e é consciente disso. A habilidade que adquire acaba atuando como uma ferrenha opressora (bem similar à situação do George Lonegan de Matt Damon em Além da Vida) , principalmente pelo fato do dom se restringir a desconhecidos, não podendo fazer o mesmo por seu pai com câncer de próstata ou pela filha com doença venérea - o que ganha uma justificativa plausível mais tarde.

Eduardo Noriega mostrou-se uma escolha acertada para o papel principal, manifestando as nuances necessárias que vão sinalizando as transformações de seu personagem. Destaque também para Belén Rueda, que interpreta Isabel , a ex-mulher do homem que tenta matar Diego e Angie Cepeda, que faz a paciente grávida que dá entrada no hospital por uso de barbitúricos - é nela que se encontra a chave do mistério para tudo o que ocorre.

Mãos que Curam é uma produção de linha, conduzida e encenada com competência , reforçando ainda mais a qualidade da cinematografia espanhola. Com um time de peso , o longa é de longe uma das melhores produções lançadas no ano passado.





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