Revolução em Dagenham





Com a entrada maciça da mão-de-obra feminina na indústria , lá pelos idos da Segunda Guerra Mundial, os direitos trabalhistas e as requisições por melhores condições de trabalho passaram a ser motivações para protestos de rua e manifestações de insatisfação simbolizadas pela paralisação dos serviços. A história de A Igualdade dos Sexos (Made in Dagenham no original) é baseada em um evento real ocorrido em 1968 , que envolveu um grupo de costureiras que trabalhavam em uma das unidades da Ford, na cidade de Dagenham , que lutavam contra os abusos provenientes de uma jornada exaustiva e uma remuneração nada condizente.

Dirigido pelo britânico Nigel Cole , que - dentre outras coisas - fez As garotas do calendário , outro longa liderado por personagens femininas, A Igualdade dos Sexos tem como protagonista Rita O'Grady (Sally Hawkis) - uma jovem que se divide entre os afazeres de dona de casa, esposa, mãe e operária da Ford Dagenham, sendo uma das 187 mulheres daquela fábrica, contra 55 mil homens pertencentes ao quadro de funcionários. Indignadas com as péssimas condições de trabalho, aquele conjunto de trabalhadoras decide manifestar seus pesares decretando greve geral. Escolhendo Rita como lider do movimento, essas mulheres acabaram promovendo caos na produtora automotiva, consequemente gerando demissões em massa .





O que mais interessante pode-se notar nesta produção é que apesar de conter um teor que a identifique como feminista, sua intenção não é essa. As protagonistas são vistas por duas óticas , por um lado são consideradas vilãs até mesmo por suas semelhantes, pois seus maridos perderam sua posições - mas pelo outro são símbolos de resistência - pressionadas por todos os lados para se submeterem às decisões de uma classe dominante, que enxergavam suas reivindicações apenas como um capricho. O roteirista Billy Ivory foi competente ao oferecer uma personalidade distinta para cada uma das personagens. Há a incisiva Rita que se revolta quando uma figura assumindo a persona do macho alfa diz : "Mantenha a cabeça baixa, se eu assentir você assente" - e também a sensual Brenda (Andrea Riseborough) , a submissa Connie ( Geraldine James) , a ingênua e manipulável Sandra ( Jaime Winstone) , e por fim Barbara (Miranda Richardson) - assumindo uma posição bem diferente ao das demais - como secretária do primeiro ministro inglês.

A autencidade da obra de Cole se dá justamente por estabelecer uma conexão com o público, sem tomar claro partido. A platéia masculina consegue reconhecer como legítima as reivindicações daquelas mulheres - que estavam fazendo o que seus pares já tinham feito anteriormente por inúmeras vezes, mesmo sem resultado, não como uma causa feminista , mas como um uma luta da classe trabalhadora , unisexualmente dizendo , contra os poderosos que sugavam ao máximo seus operários. Os personagens dos ótimos Bob Hoskins e Daniel Mays , talvez representem um pouco do mixto de compreesão com incompreensão que pode assolar a mente dos espectadores.

Sally Hawkis com certeza é um dos pontos altos do longa. Mais conhecida por seu papel simpaticamente irritante em Simplesmente Feliz, faz aqui um tipo mais contido - exercendo sua verve dramática com certa intensidade. De igual modo Miranda Richardo oferece credibilidade - como uma figura que seria o oposto à de suas colegas , liderando (estabelecendo certa pressão a seus comandados homens , que chegam a subestimá-la) mas ao mesmo se submetendo às ordens de seu superior, também assumindo a identidade do macho alfa.

Injustamente esnobado da maioria das premiações, A Igualdade dos Sexos é um filme que merece ser descoberto. É uma ótima produção - com grandes trunfos - que tem muito a oferecer.






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