Viajando pelo mundo - 37ª edição

O primeiro filme português data de 1896, através dos investimentos do empresário Aurélio Paz dos Reis. A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança foi um mini-documenário de apenas 1 minuto, mudo e preto e branco, inspirado em obra semelhante dos famosos irmãos Lumiere onde se acompanhava a saída de um grupo de trabalhadores de uma empresa pela porta da frente na hora do almoço, salientando a força da classe operária da época.
A jornada da cinematografia de nossos compatriotas sempre foi marcada por mudanças tênues ou não, que foram se promovendo à medida que novos movimentos artísticos se impunham na Europa e despertavam o interesse de seus realizadores por explorar temas mais ousados. De adaptações de clássicos literários a produções com um cunho mais crítico à política vigente, a indústria de cinema de Portugal já serviu de cenário para que inúmeras histórias fossem contadas e com o refinamento da produção, vários artistas foram se consagrando e se tornaram verdadeiros símbolos daquele país que outrora trouxe ao mundo Eça de Queiroz e Fernando Pessoa. Falaremos hoje sobre uma de suas maiores atrizes.




Maria de Medeiros

Com uma carreira bastante prolífera, a atriz Maria de Medeiros, filha de um maestro com uma jornalista, é reconhecida mundialmente como a artista mais internacional das nascidas em terras lusitanas. De partipações em produções locais premiadas mundialmente como A Divina Comédia de Manoel de Oliveira a papéis em longas hollywoodianos como Pulp Fiction de Quentin Tarantino e o posto de co-protagonista do brasileiro O Contador de Histórias de Luiz Vilaça Medeiros é um dos expoentes da indústria cinematográfica de Portugal, tendo também paralelamente investido na música e por vezes atrás das câmeras de onde comandou seis filmes desde 1987. Ela adentrou no mundo das artes pelos palcos portugueses nas mãos da encenadora Brigitte Jacques em espetáculos como A Morte de Pompeu, baseado na obra de Pierre Corneille, e foi João César Monteiro, um dos figurões do Cinema Novo, que lhe concedeu sua primeira oportunidade na telona em Silvestre. O filme se passa na Portugal do século XV, narrando a história de um poderoso que combina casar uma de suas filhas com um jovem rico, apenas para aumentar seu poderio na região.



Maria de Medeiros em O Contador de Histórias

Jogos Vorazes

Grande parcela do público que tem sustentado as bilheterias dos cinemas nos últimos anos, os adolescentes se tornaram dos principais alvos de importantes estúdios, que investem fortemente em adaptações literárias romanceadas e com doses homeopáticas de ação suficientes para transformar em sagas produções como Crepúsculo ou Harry Porter, que uma vez arrastando milhões de espectadores, renderam continuações sem atenuantes riscos de fracasso. Em tempos de crise, financeira e criativa, apostar no garantido continua a ser o mais sensato. Projetado muito provavelmente com esta filosofia, o longa Jogos Vorazes (The Hunger Games) , adaptado do livro homônimo da escritora Suzanne Collins, tem todos os ingredientes para agradar em cheio o público para o qual foi direcionado, bem como os que já deixaram a adolescência há um bom tempo.

A história se passa em Panen, uma nação pós-apocalipse formada pela poderosa Capital, que governa, e por 12 distritos, nos quais todos os anos são recrutados através de sorteio casais de jovens, de 12 a 18 anos, para participarem de um torneio onde apenas o jogador mais habilidoso sobreviverá. Os escolhidos (denominados tributos) representam a força de sua localidade perante as demais e são protagonistas de uma espécie de No Limite, onde as ações dos participantes são monitoradas 24 horas por dia. Sacrificando-se por sua irmã, selecionada no sorteio, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e um antigo conhecido, Peeta Mellark (Josh Hutcherson), são os representantes do Distrito 12 e, acompanhados da hostess da competição — Effie Trinket (Elizabeth Banks, irreconhecível), são levados para a nave mãe, na qual se concentra toda a produção, e se juntam aos outros 22 competidores. Como parte dos preparativos para a estreia, todos são incumbidos de conseguir patrocínio (suprimentos, remédios e armas), sempre assessorados por um mentor, no caso de Katniss e Peeta este papel cabe a Haymitch Abernathy (Woody Harrelson) que zela pelas imagens de seus pupilos, tentando transformá-los em figuras carismáticas a ponto de ganharem a torcida dos espectadores e não serem eliminados, literalmente, do jogo. Manipulando todas as peças do xadrez, está Seneca Crane (Wes Bentley), o diretor do programa, que pressionado a manter os bons índices de audiência, apela para artifícios tão comuns ao que já estamos acostumados a ver neste tipo de atração que domina a TV mundial. Se o ritmo cai, investe-se na ação desenfreada entregando todo o protagonismo à figura que mais demonstra potencial e providencia um romance instantâneo para que o público não perca o interesse. Em tempo, para completar a receita — coloque como âncora uma figura propositalmente over para dominar as atenções, o Caesar Flickerman de Stanley Tucci é — digamos — um Pedro Bial afetado.

Apostando em uma linguagem provinda dos games somada ao cada vez mais gritante interesse do público pela vida alheia, o caráter premonitório visto em O Show de Truman, em Jogos Vorazes o cineasta Gary Ross, responsável pelos ótimos Pleasantville e Seabiscuit — tem inúmeros trunfos a seu favor, que coloca sua produção a frente da maior parte do que é feito atualmente para a geração teen, inclusive da trilogia de Bela e Cia. A propósito, o texto da escritora Suzanne Collins é mais atual e possui personagens melhor delineados pelo enredo do que o de Stephenie Meyer. Enquanto, por exemplo, a protagonista dos livros de Meyer se mantém atuante apenas por sua relação amorosa e aflitiva com um vampiro, Katniss Everdeen toma a frente da ação, apresentando uma independência emocional de se admirar. Exímia no arco e flecha, a personagem de Lawrence é intensamente proativa – busca por seu próprio alimento, dá conselhos a mãe e salva o mocinho da morte e não foi a toa que se tornou o centro do fascínio do reality show, que a vende como destemida, deixando os outros à sua sombra. Ao adaptar a obra de Collins para a telona, Ross foi fiel à idéia da autora, estabelecendo eficientemente a dualidade entre o que é real e o que é produzido pela mídia, portanto mesmo que alguns personagens se mantenham durante todo o tempo num determinado tom caricato, eles conseguem fazer sentido para a trama, sendo vistos como delírios do entretenimento marcados pela grandiloqüência, ilustrada pelo universo psicodélico onde estão inseridos Crane, Flickerman e Effie. Na contramão vem o lado sóbrio e realista dos jogadores, a maioria de origem muito pobre, maquiado por um tipo de imagem que o programa quer passar deles. Tal qual em Pleasantville, que narrava as tramas de um seriado de TV dos anos cinquenta, onde os protagonistas eram inseridos num ambiente com o American way of life latente, nos Jogos Vorazes a preocupação com a reputação do canal e de seus castos envolvidos é de suma importância.

Gabaritando-se para se tornar estrela, Jennifer Lawrence — outro dos principais acertos do longa, constrói Katniss como um misto de fragilidade, bem característica da idade, e ousadia que em certos pontos lembra a Ree Dolly, interpretada por Lawrence em Inverno da Alma. Entendendo as regras do jogo e o que este objetiva, ela consegue promover uma interessante reviravolta, dando espaços a mudanças de nuances que atenuam seu talento dramático.

Tendo uma trilogia praticamente garantida, a obra de Suzanne Colins é uma consistente fonte de exploração, também estruturada por temas complexos que podem gerar reflexões pertinentes, como da luta pela auto-preservação, a limítrofe fronteira entre o certo e o errado e a dominação do aparentemente mais forte sobre o mais fraco.

Numa época onde se investe pouco em produções que entretenham, mas que de igual modo tenham um caráter persuasivo consistente, Jogos Vorazes merece ter vida longa e próspera. Sem dúvida é cinema dos bons!

A Chave de Sarah

Aliada da Inglaterra, contra a Alemanha, na Segunda Guerra Mundial, a França foi um dos principais cenários de investidas do movimento nazista de Hitler, e tendo a capital Paris ocupada quase em sua totalidade no início da década de quarenta, encontrou-se cercada de militares alemães que capturaram artistas, intelectuais e civis — judeus e não franceses de variadas faixas etárias, incluindo mulheres e crianças. O exército e o Serviço Secreto Francês, atuando como cúmplices em muitas das ações nazistas, brutalmente arrancaram famílias inteiras de suas casas, determinando seus destinos em campos de detenção, separando maridos, esposas e filhos. O impacto desses eventos ficou na memória de muitos sobreviventes, que ainda hoje, décadas depois do término do conflito, lidam com os traumas causados pela brutalidade do regime alemão.

Dirigido e roteirizado pelo cineasta francês Gilles Paquet-Brenner, o drama A Chave de Sarah trata dos fantasmas pessoais que durante anos acompanharam uma menina judia, estrangulada pela culpa por um ato que cometeu no passado, a fim de proteger o irmão caçula. Tais fatos se tornaram peça para uma matéria jornalística de uma importante publicação local em 2009, depois que o governo deu ganho de causa a uma ação movida pela menina deportada.

Veterana e renomada jornalista, a americana Julia Jarmond (Kristin Scott Thomas) numa reunião de pauta decide investigar a vida da garota judia , que nos anos quarenta foi levada junto com a família para um velódromo (uma espécie de estádio onde eram mantidos os prisioneiros antes de serem enviados para os campos). Antes disso, distraindo a atenção da polícia, a jovem Sarah Starzynski consegue esconder o irmão menor em um armário dentro de uma parede falsa e guarda a chave como um talismã, pois acredita que estará de volta a tempo de soltá-lo do aposento. A partir daí, ela e seus pais passam a fazer companhia a milhares de pessoas, em um ambiente com condições extremamente precárias (o que Paquet-Brenner em determinado momento competentemente ilustra ao utilizar a câmera em panorâmica horizontal e em lento movimento). Enviados para o norte do país num inverno cruciante, a família Starzynsk é dividida e a primogênita encaminhada para um cercado apenas de crianças. Ajudada por um oficial, consegue escapar com uma amiga e encontra refugio no lar de um casal, que a principio as rejeita, mas as acolhe quando percebe que uma das garotas está doente. Tempos depois — Sarah, Jules (o ótimo Niels Arestrup de Cavalo de Guerra ) e Geneviève Dufare (Dominique Frot) retornam para o prédio onde a personagem morava com os pais, para conseguirem resgatar o irmão preso no armário. O apartamento naquela fase já estava ocupado, sendo que o filho dos atuais donos, Édouard, então criança — se tornaria mais de cinquenta anos depois o sogro da personagem de Scott Thomas, e de quem esta herdaria com o marido o imóvel onde aquele morou com a família, logo depois dos Starzynskis serem deportados. O paradeiro de Sarah acaba se transformando na obsessão de Julia, que nesta altura também tem que lidar com as intempéries de uma gravidez não desejada pelo cônjuge, que a sugere fazer um aborto.



Alternando passado e presente, promovendo uma quase perfeita conexão de tramas, a produção francesa A Chave de Sarah se apóia principalmente no talento da inglesa Kristin Scott Thomas que, poliglota, utiliza o inglês materno (com sotaque americano) e fala fluentemente o francês. Minuciosa, a atriz consegue fazer a diferença, apesar dos evidentes desníveis do texto. Quando gira em torno da personagem misteriosa protagonista da matéria de Julia, o roteiro atinge inúmeros picos, que ainda salientam o excelente trabalho de reconstituição de época, recuperando o clima sombrio que rodeava milhares de civis, que sem reais perspectivas, tinham a convicção de que estavam indo em direção à iminente morte, nas terríveis condições em que estavam. Em contrapartida, no momento que a trama se desloca para os dias atuais, se concentrando nos dramas vividos por Julia, como sua gravidez tardia, os conflitos matrimoniais, a sogra enferma, há uma perda gradual do brilho da narrativa, retomado apenas quando a personagem novamente se fixa na busca por Sarah.

A segura direção de Gilles Paquet-Brenner de certo modo também compensa esta desarmonia de histórias, oferecendo algumas cenas antológicas, como quando nos deparamos com uma personagem fingindo estar ferida para escapar do velódromo, e após conseguir, só é possível ouvir seus solitários passos rumo à saída, em detrimento aos muitos que não terão a mesma sorte. Outro ponto alto do filme se dá pela contundente critica à falta de conhecimento e ao desinteresse de uma juventude pelo passado, captado pelos jovens com certa superficialidade.

Longe de ser brilhante, mas muito sincera, a produção A Chave de Sarah funciona como um preciso retrato de uma época histórica, que levou ao óbito milhares de nativos franceses e de outras origens, derrubados pela violentamente impositora filosofia nazista, que perseguiu seus alvos pelos quatros cantos de Paris. Cerca de 13.150 pessoas foram colocadas nos trens em direção a Auschwitz, e grande parte nunca mais foi vista.

Hollywood em Caricaturas - Tom Hanks


Filho de um chef de cozinha e de uma empregada de um hospital, Thomas Jeffrey Hanks começou a carreira em peças teatrais nos palcos de uma Universidade em Sacramento. Quando se mudou para Nova York para tentar a sorte, só lhe apareciam pontas em produções de baixo orçamento ou participações em séries de TV pouco vistas. Porém, foi através de um personagem secundário em Family Ties, seriado de grande sucesso co-estrelado por Michael J. Fox, que o ator chamou a atenção de Ron Howard, que estava prestes a dirigir o grande sucesso Splash, Uma Sereia em Minha Vida. Desbancando Jonh Travolta e Bill Murray, Hanks conquistou o papel de um executivo que tem o destino cruzado com o de uma sereira (interpretada por Daryl Hannah). O filme foi um enorme sucesso de bilheteria e elevou bastante a popularidade de Tom Hanks em Hollywood. Com a comédia Quero Ser Grande, faturou sua primeira indicação ao Oscar — prêmio esse que veio anos mais tarde com o homem soropositivo no drama Filadélfia e no ano seguinte interpretando o deficiente mental Forrest Gump, no filme homônimo. Na proporção que aumentava o prestígio do astro na indústria, mais oportunidades surgiam também atrás das câmeras, hora dirigindo — The Wonders - O sonho não acabou e o recente, e péssimo, Larry Crowne hora assumindo apenas a produção de minisséries, Jonh Adams é uma delas. Respeitado por seus colegas, atualmente Tom Hanks é o vice-presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela entrega dos Oscar. Em 2012 ele retorna à telona com O Simbolo perdido, o terceiro filme da cinesserie O Cógido da Vinci.









Darfur - Deserto de Sangue

Há poucos anos, Uwe Boll foi considerado pela crítica americana como o pior diretor da história do cinema contemporâneo. Suas produções, a maioria adaptações de games, frequentemente eram mal recebidas por público e imprensa, pela precariedade e pela falta de tino de seu idealizador na concepção de uma obra cinematográfica. Assim sendo, ao depararmos com Darfur - Deserto de Sangue com toda sua crueza e sinceridade percebe-se que algo pode ter mudado, e que talvez estejamos diante da melhor produção da carreira controversa do cineasta, que desta vez , deixando de lado as ocas tramas que habitualmente também roteiriza, expõe com uma abordagem documental uma das maiores crises humanitárias da história.

Região Oeste do Sudão, Darfur é palco desde 2003 de violentos conflitos armados promovidos pela população árabe contra os não-árabes, a maioria composta por negros. Neste cenário, milícias camufladamente apoiadas pelo governo espalham o terror por onde passam , assassinando, cometendo estupros e sequestrando crianças, numa disputa etnico-cultural gritante e que meio mundo não imagina a dimensão. São esses acontecimentos que motivam um grupo de jornalistas americanos, liderados por Malin Lausberg (Kristanna Loke) e Bob Jones (Billy Zane), a produzirem uma matéria denúncia sobre as atrocidades ocorridas em terras sudanesas, que revela, mesmo que indiretamente, que as Nações Unidas sim assume apenas um papel figurativo em várias desordens com vínculos políticos, mantendo-se na retaguarda quando lhe convém. Apoiados por soldados da União Africana, Malin e sua equipe se adentram em um dos muitos vilarejos de refugiados não-árabes, entrevistando homens e mulheres que ali permanecem acuados, temerosos pela chegada dos Janjawid - milicianos africanos de religião muçulmana e língua árabe.


Filmado com a câmera na mão, focalizando as reações adversas de seu elenco principal para com cada acontecimento, da expectativa para chegar ao vilarejo à consternação por serem incapazes de evitar um eminente genocídio - Boll foi eficiente ao abrir a narrativa pelo desfecho final, através das lamentações de parte da equipe de americanos, entregues ao impacto dos recentes acontecimentos dos quais foram testemunhas. Deste ponto, acompanhamos os eventos ocorridos até ali e em determinado momento os olhares dos personagens acabam sendo os do espectador. Investigam-se os costumes, as tragédias pessoais (é cada vez mais crescente o número de mulheres contaminadas pelo vírus da AIDS depois de estupradas), a alta taxa de mortalidade. Estima-se que mais de 400.000 pessoas tenham perdido a vida nesta guerra travada no país africano movida pelo racismo e a convicta superioridade que alguns acreditam ter. Invadida por um bando de Janjawids a aldeia que serve de cenário para a reportagem de Malin se torna um campo de pura carnificina, não poupando o espectador de nenhum detalhe, mesmo o mais sórdido, reforçado ainda pela tensa trilha-sonora de Jessica de Rooij. O que foi visto em Diamantes de Sangue ou O Jardineiro Fiel, por exemplo, chega a ser um passeio no parque perto do que é exibido aqui. Uwe Boll utiliza este nada agradável clímax com um tom agressivo, o que pode soar apelativo, mas que historicamente é o que de fato acontece em terras darfurianas.

Mesmo não contando com grandes atuações ou um brilhante roteiro, deve-se destacar a ousadia e coragem do diretor alemão em trazer à tela um retrato cruel das muitas tragédias sociais cometidas em diversas nações, e a incapacidade do restante do mundo de se voltar para elas. Apesar de amplamente divulgado pela imprensa, as desavenças em Darfur continuam a resultar na morte de milhares de civis, e inacreditavelmente alguns países como a China, se recusam a classificar o ocorrido no Sudão como genocídio puramente por interesses comerciais.

Difícil dizer se Darfur - Deserto de Sangue é uma produção com calibre suficiente para tirar do limbo um dos cineastas mais perseguidos de Hollywood, entretanto na fronteira limítrofe entre o céu e o inferno, Uwe Boll conseguiu pelo menos alguma redenção.

Viajando pelo mundo - 36ª edição


Diferentemente de outros países, como o vizinho Brasil, na Colômbia fazer cinema nunca foi objeto de rentabilidade, vide os percalços e a perda do apoio estatal com a eliminação da FOCINE. Tal situação de certa forma impossibilitava o surgimento de mão de obra especializada e recursos tecnológicos mais apurados. Só foi a partir de 2003, com a aprovação da Lei do Cinema pelo plenário, que houve um renascer e com a injeção de capital privado nas co-produções colombianas, algumas delas alcançaram visibilidade fora de casa e tornaram consagrados os nomes de seus idealizadores. Entre os mais prestigiados está Sergio Cabrera.



Sergio Cabrera

Nascido em Medellin, pouco tempo depois dos pais espanhóis se exilarem na Colômbia devido ao regime franquista, Sergio Cabrera é um dos poucos cineastas colombianos a ter projeção em uma indústria de cinema local que durante quase toda sua existência caminhou a trancos e barrancos. Ex-soldado da Guarda Vermelha da China, onde viveu na adolescência, se aventurou no mundo da Sétima Arte na década de setenta, dirigindo seus primeiros curtas-metragens e pequenos documentários. Com uma carreira bastante ampla, além de diretor é roteirista; ator; diretor de fotografia e produtor alcançou o auge com La estrategia del caracol, premiado no Festival de Berlim. Filmado em zonas precárias de Bogotá, o longa retratava a luta de um grupo de moradores de um bairro periférico da cidade para manter sua dignidade depois que o inescrupuloso proprietário do imóvel onde moram decide por demolí-lo. Ao todo esta produção faturou 30 prêmios ao redor do mundo, tamanha a repercussão que teve por onde foi exibida.


Cena de La estrategia del caracol

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